O Mercado Modelo de Salvador, na Bahia, é um exemplo da aplicação da teoria de restauro italiana, ao que restou do incêndio de 1963. Em linhas gerais, a teoria fundada por Camilo Boito, no final do século XIX, adaptada à pintura por Cesar Brandi e consagrada na Carta de Veneza, pode ser resumida na assertiva de Brandi: “o Restauro constitui o momento metodológico do reconhecimento da obra de arte, na sua consistência física e na sua dupla polaridade estética e histórica, visando sua transmissão ao futuro”. Portanto, a valorização da estética do Mercado foi alcançada pela exibição de sua clara estrutura de arcarias superpostas e de seu subsolo alagado com as belas abóbadas de aresta de seu teto, que se refletem no espelho d’água. Os valores históricos foram resgatados com uma exposição no subsolo e na publicação de um livro sobre o edifício e sua restauração. Como testemunho de um episódio marcante de sua historia, foram deixadas as marcas do fogo nas suas cantarias. Como garantir, entretanto, a segurança dos artesãos e visitantes diante da repetição de incêndios? Como tratava-se de uma antiga alfândega com poucos escapes e janelas protegidas por grades de ferro, foi determinada a substituição do assoalho por laje pré-moldada e a construção de escadas nos cantos do edifício para impedir a propagação do fogo entre os pisos e evitar o aprisionamento de pessoas. O pré-moldado possibilita a reversibilidade em caso de mudança radical de função. Na rotunda, totalmente aberta, o arquiteto optou por critério oposto, o de reconstrução da bela carpintaria náutica. A exiguidade de tempo e de espaço fez com que a intervenção fosse realizada em dois canteiros remotos, de pré-moldados e de estrutura metálica da cobertura, e um local de consolidação da cantaria e de reconstrução da carpintaria e tudo sendo montado on time.